Em junho comemora-se o dia do meio ambiente mas há muitos motivos para nos preocupar: os plásticos se tornaram o grande vilão do ambiente marinho com estimativas de que, no ano de 2050, exista mais plástico do que peixe nos oceanos
30.jun.2017 - Todos os anos algo entre cinco e 13 milhões de toneladas de plásticos são despejados nos oceanos. A luz solar e a água desfazem esses resíduos em microplásticos de cerca de cinco milímetros. Acrescente-se ainda as microesferas plásticas contidas em muitos produtos comésticos e de higiene e essa sopa se transforma na dieta de diversas espécies marinhas, desde o zooplâncton (que serve de alimento a outros animais) até as baleias.
Todo esse plástico retorna em alimentos consumidos pelo homem, incluindo o sal marinho. E como os plásticos funcionam como esponjas, absorvem diversos contaminantes presentes na água.
Mas os microplásticos estão em toda parte. Até mesmo no ar se encontram microfibras sintéticas. E é verdade também que ainda não se sabe muito sobre os possíveis malefícios à saúde que esses componentes podem causar.
Mas no futuro, provavelmente haverá a necessidade de se criar regras e níveis de tolerância da quantidade de microplásticos nos alimentos.
Dieta de animais marinhos
Infelizmente, pedaços maiores de plásticos também fazem parte da dieta de animais e aves marinhos. Uma reportagem do Jornal A Tribuna, da cidade de Santos, mostra números assustadores: das 200 tartarugas marinhas acolhidas e tratadas no Aquário Municipal de Santos nos últimos dez anos, 124 morreram e 76 foram recuperadas. Da metade que morreu, 48,7% delas tinham “corpos estranhos no trato intestinal”, que são nada menos que ingestão de lixo no mar. As tartarugas nascem em ilhas oceânicas e se alimentam em áreas costeiras, entrando em contato com o lixo e a poluição.
No caso das aves a situação também é preocupante. De acordo com a pesquisa citada na reportagem de A Tribuna, realizada pelo médico-veterinário Gustavo Dutra, que faz parte do corpo clínico do aquário santista, foram coletadas informações de 395 aves. Em dez anos, 158 foram recuperadas. Entre as que morreram, 61% apresentavam alterações gastrointestinais; 36%, problemas respiratórios; e 3%, ortopédicos.
As praias do Parque Estadual da Ilha do Cardoso, em São Paulo, recebem grande quantidade de resíduos plásticos trazidos pelo mar
Prevenção
Cálculos da ONU Meio Ambiente indicam que 99% das aves marinhas terão ingerido plástico devido ao seu uso em larga escala e a lenta decomposição. Garrafas pet, tampinhas, sacolas, sacos e canudos são os tipos de plásticos mais encontrados nos mares e praias costeiras, correspondendo a até 80% de todo o lixo. De acordo com estimativas, em 2050 haverá mais plásticos do que peixes se esses materiais forem jogados fora após terem sido usados apenas uma vez.
“Será que precisamos realmente de sacos de plástico novos cada vez que vamos às compras?”, questiona Leila Pio dos Santos, responsável pelo setor de meio ambiente da Marinas Nacionais. “O ideal é evitar materiais descartáveis, principalmente no uso dentro do barco”, alerta. “Todo o lixo gerado em mar deve ser separado e embalado para ser depositado nos contêineres da marina, onde recebem o destino correto”
Em alguns países, os governos também têm adotado medidas mais drásticas. Na França os sacos de plástico são proibidos e a partir de 2020, o país se tornará o primeiro a proibir pratos, copos e utensílios de plástico. São Francisco, nos EUA, proibiu o uso de poliestireno, incluindo copos de isopor, embalagens de amendoim e brinquedos de praia.
Aqui no Brasil, a fiscalização de nossa costa é muito precária por causa da extensão do litoral. Apesar do rigor da multa, que pode variar de R$ 7 mil a R$ 50 millhões, o flagrante para descarte de lixo tanto por parte de passageiros quanto por parte das tripulações no mar, é praticamente impossível.
Acima de tudo é preciso sermos honestos e assumirmos que a responsabilidade é toda nossa. Afinal, quem é que levou o plástico para os nossos oceanos?
Existem cinco zonas de convergência que acumulam poluição nos oceanos: Atlântico (Sul e Norte), Pacífico (Sul e Norte) e Índico, totalizando duas vezes o tamanho do Brasil
Foto de capa: Antonio Foncublerta Creative Commons