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Maria Claudia Kohler, do Projeto Albatroz, conta um pouco do trabalho da ONG que luta pela conservação dos albatrozes e petréis

19.jul.2012 - Criada há 20 anos em Santos, no estado de São Paulo, a organização não governamental (ONG) Projeto Albatroz surgiu da necessidade de proteger os albatrozes e os petréis, espécies ameaçadas de extinção. Essas aves marinhas são alvos de captura não intencional causada pelo uso de espinhel pelágico na pesca industrial, realizada em alto mar, principalmente de atuns, espadartes (meca) e tubarões. Ao tentarem comer as iscas lançadas pelos barcos, as aves ficam presas nos anzóis e morrem afogadas.
Trabalhando em parceria com o Poder Público, a ONG incentiva a implantação de medidas que protegem as aves, sensibilizando a sociedade quanto à importância da sua conservação para o equilíbrio do meio ambiente marinho e incentiva os pescadores ao uso de medidas para reduzir a captura. A ONG também opera em Itajaí (SC), Itaipava (ES) e Rio Grande (RS).
Para contar um pouco do trabalho de educação ambiental “Projeto Albatroz na Escola”, realizada com alunos de escolas particulares e da rede pública municipal de Santos, conversamos com Maria Claudia Kohler, coordenadora de Educação Ambiental e Voluntariado do Projeto Albatroz, cuja trajetória foi construída em diversas atividades ambientais, entre elas o Projeto de Conservação do Peixe Boi Marinho em Barra de Mamanguape, na Paraíba, na preparação da Rio 92 pelo órgão estadual de meio ambiente da Paraíba (SUDEMA/PB), e no Greenpeace, como coordenadora nacional de voluntariado. “Acredito que a mobilização de pessoas em torno de uma causa sustentável torna o Planeta Terra mais justo, solidário e verde.”
Na foto à direita, Maria Claudia ao lado do velejador Torben Grael, líder da equipe campeã da edição 2008/2009 da Volvo Ocean Race (VOR)
O trabalho e as pesquisas realizados pelo Projeto Albatroz já colaboraram com a adoção de políticas públicas conservacionistas?
Sim. O Projeto Albatroz foi parceiro na elaboração do Plano de Ação Nacional para a Conservação de Albatrozes e Petréis (PLANACAP), lançado em julho de 2006, pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente. As ações do PLANACAP são executadas pelo Projeto Albatroz por meio de convênio com o Ministério da Pesca e Aquicultura. Outro exemplo é o uso do toriline pelas embarcações que operam no Sul e Sudeste do Brasil (veja box), determinada pela Instrução Normativa Interministerial (INI) 04/2011, dos Ministérios da Pesca e Aquicultura e do Meio Ambiente.
Uma das recomendações da Comissão Internacional para a Conservação do Atum do Atlântico (ICCAT, na sigla em inglês), organização de ordenamento pesqueiro no Oceano Atlântico e mares adjacentes, teve a contribuição do Projeto Albatroz.
Como o projeto interage com a comunidade?
Realizamos o trabalho de informação com os pescadores de pesca de espinhel pelágico, e ao público em geral nos eventos que participamos. Já o trabalho em escolas, para professores e alunos, iniciou ano passado, com o patrocínio da Petrobras, através do Programa Petrobras Ambiental. Elaboramos uma cartilha de educação ambiental para professores e alunos que será implantada agora em agosto em escolas da rede municipal de Santos.
O trabalho de conscientização é focado em quais públicos?
Pescadores, público em geral, alunos e professores do ensino fundamental, além de universitários que geralmente são nossos voluntários.
Qual é, na sua opinião, o papel da educação ambiental nas escolas?
A educação tem papel decisivo para transformar e impulsionar a formação de nova mentalidade nas próximas gerações. Ambiente e biodiversidade marinha ainda são temas muito pouco explorado no ensino, e bastante rico para deflagrar temas geradores para projetos de Educação Ambiental. Reforça o sentimento de pertencimento e cuidado da região litorânea onde a escola está situada. É importante conhecer a região onde se vive para preservar.
De qual forma o cidadão comum pode colaborar com o projeto?
Como toda ONG, temos o desafio constante da sustentabilidade econômica. Somos profissionais que dedicam todo tempo trabalhando para a preservação dos albatrozes. Por isso precisamos de recurso, dinheiro, para manter nosso objetivo. A doação de dinheiro é uma forma importante de colaborar. Outra é o engajamento como voluntário, onde o indivíduo pode doar seu tempo e habilidade ao trabalhar conosco, desde a elaboração de planilhas financeiras até carregar material e montar exposição nos eventos!
Quais são as qualidades que você entende como fundamentais para se tornar um voluntário?
O voluntário deve ter, obviamente, uma identidade ou ideologia com aquilo que ele vai atuar. O comprometimento e o envolvimento são muito importantes para a atuação do voluntário!
O velejador João Signorini, da equipe Telefonica (VOR), durante parada em Itajaí (SC), participou do “Abraços Grátis”, uma ação de divulgação e sensibilização do Projeto, utilizando voluntários fantasiados de albatrozes
Crianças brincam com o jogo de tabuleiro do Projeto Albatroz, que consiste na superação de uma série de desafios com o objetivo de alimentar um filhote de albatroz
Comparar o tamanho das asas abertas de um albatroz-viageiro, que tem 3,5 metros, com os participantes, é um dos jogos do Programa de Educação Ambiental
Albatrozes e petréis vivem em alto-mar o ano todo, indo para ilhas distantes apenas para se reproduzirem, e destacam-se pelo alto grau de especialização nesse estilo de vida.
A proteção dos petréis, assim como a dos albatrozes, está prevista, não apenas no Brasil, mas também no Acordo Internacional para a Conservação de Albatrozes e Petréis (ACAP), já que ambos distribuem-se amplamente nos oceanos e interagem com diversas técnicas de pesca em águas nacionais e internacionais.
O uso de toriline, equipamento formado, entre outros elementos, por fitas coloridas que afugentam as aves, a captura cai de 90 aves para 37 a cada cem mil anzóis (redução de 60%) e, ainda, aumenta a produtividade da pesca ao evitar que a isca capture uma ave. O toriline é mais eficiente usado com a largada da linha de pesca à noite, uma vez que grande parte das aves marinhas se alimenta durante o dia. Outra medida mitigadora é o peso na linha de pesca, reduzindo em 30% o ataque das aves às iscas.
O Projeto Albatroz é patrocinado pela Petrobras, tem o apoio da Royal Society for Protection of Birds (RSPB), da Birdlife International, do programa Albatross Task Force (ATF), da Save Brasil e do Ministério da Pesca e Aquicultura, além da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e do Governo do Estado do Espírito Santo, por meio do seu Instituto Estadual de Meio Ambiente.
Para mais informações, acesse www.projetoalbatroz.org.br.